o eterno contorno
que torna o contraste
o aceno à alegoria
que torna o estandarte
o imenso memento da euforia

o eterno momento
imenso rio-mar onde deriva
a forma lembrada na sensação sentida
o sentido do ato, retornando à partida
provando que o fel é fel
ou se a dor era a própria ferida

Antena Pareidólica

o ser humano é uma antena pareidólica
que na alteridade paradóxica
por consumo vê a si em uma tela anedótica

convém narciso abraçar a nuvem lacunosa
jocosamente encaixada em um lego de prosa
enxaixa em si o vulto positivo da face do outro
da face caluniosa pintada de ouro

minha mente não pode ser assim colonizada
parece livre de quadros e enquadros agravos
atalhos que o ser costuma percorrer para colher agrados

parece que aqui nunca viu-se bandeira em riste por mais de um bocado
algumas eras infindas de densidade bem-vinda foram-me o bastante
não contente, mudei de rota como um infante visando o lume estrelado cadente

aqui não se pode pousar sem logo zarpar em voo
que todo aquele pensamento jocoso assim arremeta
e que nunca se meta em meu jardim do éden de jardineiro zeloso

aqui o mato da discórdia não dura mais que um estrondo

cá dentro gritos de desespero imperam sobre a dor impermeável de ser
não subsiste quiçá uma leveza, uma brisa leve, ou sequer proezas
– nenhuma alma santa passada para vir cá me buscar

sinto-me fora do mundo, alheio ao presente, carregado de tudo
como um estranho no ninho
ao passo que não acolhido, encolho ainda mais
pequeno infante crescido detestado pelos normais

o que me liberta me prende
o que me ilumina me cega
o que me ama me odeia
o que me prende me entrega

fome de alma, de ser, de estar, de porvir
sede de amar, de ardor, de pavor, de sorrir

a indecência da minha tristeza é um cuspe no prato
ainda que o prato posto mal tivera estado à mesa
– é sempre uma condicional elevada ao trato

esta poesia é tão incompleta quanto este que vos escreve é um rato

a cada momento em que em minha masmorra me reviro
suspira um afago canto de uma alma amiga amante
ao meu lado esquerdo o peito agita me acusando vivo
cozendo minha carne ao espírito do presente instante

de alegria o peito se enche
explosões de supernovas
criando vida, sentindo gente
sabendo-se da ida à prova

peito contente que me acalma
abrisa a mente que leve revoa
enxarca o pranto de amor repente
recanta a força que a luz ecoa

jaz em minha vida uma alma poente
latente sombra de algum torpor
mas cala-te agora, prisão dormente,
pois sou agora o meu próprio senhor

Senhor dai graças a mim e aos meus
que seus dias de frutos sejam para cá
em meu solo fértil suas raizes fixarão
a frondosa vida que há de chegar

agradeço a Deus pelo sorriso no olhar
que a Luz de teu nome sempre possa brilhar
Hosana nas alturas, paz na Terra
meus pés estão a caminhar

um punhal de ponta aguda
suporta a bruma de um umbral

amor vencido pelo ego enchido
uma mãe, um vulto parental
um peso sentido das duas mãos do mal

suspende-se sobre um frágil infanticídio
o peso de um universo fingido
sobre um aborto do amor maternal

entre lamento e labirinto,
eu, demônio faminto, encontrei,
ainda que cego e distinto
aquela que me animaria o tormento
e que daquele instante
até o último momento,
me acende como que por instinto

ela, feroz encantadora de esfinges,
tingiu meu negro pranto de lume
banhou meu rosto de sorrisos
domou meu eu autoimune

se de penúria te fiz o primeiro passo
meu intento eterno agora é romper o espaço
abrindo estreito caminho pelo Todo
te buscando com meu sorriso bobo,
revirando o tempo para trazer-te ao meu braço

na tua pele habitarei como Deus a saciar-se no Éden
de pecado em pecado, pecarei
de tato em tato, sentirei
e em cada toque com teu desejo permanecerei,
lentamente,
como fúria latente entre os lábios teus

a ti herdarei minhas eras e éons
meu amor infindável, indelével,
cobrirá a eternidade com teu nome
e lá estarei ao fim, ao teu lado,
para um novo começo com teu sobrenome

te amo, thata

gravidade
grande grade universal
tabuleiro fractal das realidades
onde o presente se estende
onde se entende multilateral
transcende o abismo entre o um e o estrutural
é cabido onde se cabe o total


entropia que agrega e desenvolve
centro de imersão
converte o todo em um
e o faz sentir o todo que o envolve

momento que antecede o peso
o gosto frustrado ao paladar
pela expectativa gustativa
o lume se ascende como quem sabe o que deseja provar

o corpo não responde ao ímpeto que mal acontece
não transcende à vontade nula, padece ao parecer
fenece brusco ante ao imóvel ser e anula o dia antes da alvorada

eterno brio coberto pela poeira do que passou,
não reluz, não incandesce, apenas falha em parecer
jaz no mundo, meio vivo, o dia que não lhe cabe

nada é o que parece
ainda que um sorriso flamejante me rompa o semblante
a eterna tumba de dias ainda cá dentro apodrece