cá dentro gritos de desespero imperam sobre a dor impermeável de ser
não subsiste quiçá uma leveza, uma brisa leve, ou sequer proezas
– nenhuma alma santa passada para vir cá me buscar
sinto-me fora do mundo, alheio ao presente, carregado de tudo
como um estranho no ninho
ao passo que não acolhido, encolho ainda mais
pequeno infante crescido detestado pelos normais
o que me liberta me prende
o que me ilumina me cega
o que me ama me odeia
o que me prende me entrega
fome de alma, de ser, de estar, de porvir
sede de amar, de ardor, de pavor, de sorrir
a indecência da minha tristeza é um cuspe no prato
ainda que o prato posto mal tivera estado à mesa
– é sempre uma condicional elevada ao trato
esta poesia é tão incompleta quanto este que vos escreve é um rato